Enquanto estava viajando assistindo o filme "A Origem", o telefone toca e eu já sabia que era mamãe.
Pelo barulho ao redor, entendi a cena: festa em família.
Apressadamente mamãe explica que eu devo falar com a Tia Dedé e começa a chamar pelo seu nome; esse é o sinal milenar de que é aniversário de uma tia e eu ainda não tive a consideração de ligar para dar os parabéns.
O altruísmo de minha mãe não deixa as pessoas perceberem que ela é a única pessoa verdadeiramente de bom coração da família.
Ouço uma voz cheia de bondade perguntando como estou. Não é a Tia Dedé, é a Tia Candinha e meus olhos enchem de água, pois ouvi a voz de uma velhinha. Sabe aquela voz de desenho animado que imita uma doce e boa pessoa, aquela que conta histórias e faz tortas de maça? Então.. era essa voz.
Cresci sabendo que a pessoa mais inteligente do mundo era da minha família: a Tia Candinha.
Lembrem-se que no início dos anos 80 a internet só existia para uns fanáticos nerds americanos e poucos cientistas ao redor do mundo entendiam a palavra globalização. A coisa mais próxima que existia da internet eram as enciclopédias. Mamãe nos deu com muito orgulho uma Barsa completa. Em sua capa havia um certificado que dizia "Para meus filhos, pois a melhor herança que posso deixar é a cultura".
As vezes a Barsa não tinha todas as respostas e invariavelmente consultávamos a Tia Candinha. Qual assunto? Qualquer um. O equivalente ao que fazemos com o Google, fazíamos com a Tia Candinha.Ela literalmente ditava informações como se elas estivessem sempre disponíveis em sua prateleira mental.
Aquela voz de hoje definitivamente não combinava com a voz da minha lembrança: Tia Candinha nos oferecia pés de galinha no almoço, nos servia a história de Rapunzel a noite e na hora do banho, passava algodão com álcool em nossos umbigos, tudo com uma voz firme e rigorosa, sem nunca perder a doçura.
Fiquei muda e não tive tempo de dizer: "Meu Deus que saudade", "Tia, deixa eu aproveitar e agradecer a pessoa maravilhosa que a senhora é, ah também me deixa dizer que te amo e prometo te visitar quando voltar ao Rio."
Rapidamente o telefone é passado a outra pessoa: a aniversariante Tia Dedé. A Tia Dedé é aquela tia linda e loira, engraçada e que não consegue nos encontrar sem nos entregar um presente. Ela nos compra presentes independente de quantos meses ou anos não nos vejamos e, de tempos em tempos, recebemos uma enxurrada de lembrancinhas que foram se acumulando durante o período que negligenciamos sua maravilhosa presença.
Meus últimos presentes provenientes da Tia Dedé, eu recebi das mãos da mamãe. Há tempos também não vejo essa Tia querida.
A voz dessa vez era igualmente doce, mas cheia de emoção. Parece que toda familia estava lá na Tia Dedé, comemorando seu aniversário e com isso falei com todos com a minha voz de vergonha por estar tão distante, mesmo quando não tinha a desculpa dos 500km.
Obrigada mãe.
Pelo barulho ao redor, entendi a cena: festa em família.
Apressadamente mamãe explica que eu devo falar com a Tia Dedé e começa a chamar pelo seu nome; esse é o sinal milenar de que é aniversário de uma tia e eu ainda não tive a consideração de ligar para dar os parabéns.
O altruísmo de minha mãe não deixa as pessoas perceberem que ela é a única pessoa verdadeiramente de bom coração da família.
Ouço uma voz cheia de bondade perguntando como estou. Não é a Tia Dedé, é a Tia Candinha e meus olhos enchem de água, pois ouvi a voz de uma velhinha. Sabe aquela voz de desenho animado que imita uma doce e boa pessoa, aquela que conta histórias e faz tortas de maça? Então.. era essa voz.
Cresci sabendo que a pessoa mais inteligente do mundo era da minha família: a Tia Candinha.
Lembrem-se que no início dos anos 80 a internet só existia para uns fanáticos nerds americanos e poucos cientistas ao redor do mundo entendiam a palavra globalização. A coisa mais próxima que existia da internet eram as enciclopédias. Mamãe nos deu com muito orgulho uma Barsa completa. Em sua capa havia um certificado que dizia "Para meus filhos, pois a melhor herança que posso deixar é a cultura".
As vezes a Barsa não tinha todas as respostas e invariavelmente consultávamos a Tia Candinha. Qual assunto? Qualquer um. O equivalente ao que fazemos com o Google, fazíamos com a Tia Candinha.Ela literalmente ditava informações como se elas estivessem sempre disponíveis em sua prateleira mental.
Aquela voz de hoje definitivamente não combinava com a voz da minha lembrança: Tia Candinha nos oferecia pés de galinha no almoço, nos servia a história de Rapunzel a noite e na hora do banho, passava algodão com álcool em nossos umbigos, tudo com uma voz firme e rigorosa, sem nunca perder a doçura.
Fiquei muda e não tive tempo de dizer: "Meu Deus que saudade", "Tia, deixa eu aproveitar e agradecer a pessoa maravilhosa que a senhora é, ah também me deixa dizer que te amo e prometo te visitar quando voltar ao Rio."
Rapidamente o telefone é passado a outra pessoa: a aniversariante Tia Dedé. A Tia Dedé é aquela tia linda e loira, engraçada e que não consegue nos encontrar sem nos entregar um presente. Ela nos compra presentes independente de quantos meses ou anos não nos vejamos e, de tempos em tempos, recebemos uma enxurrada de lembrancinhas que foram se acumulando durante o período que negligenciamos sua maravilhosa presença.
Meus últimos presentes provenientes da Tia Dedé, eu recebi das mãos da mamãe. Há tempos também não vejo essa Tia querida.
A voz dessa vez era igualmente doce, mas cheia de emoção. Parece que toda familia estava lá na Tia Dedé, comemorando seu aniversário e com isso falei com todos com a minha voz de vergonha por estar tão distante, mesmo quando não tinha a desculpa dos 500km.
Obrigada mãe.
