Anos 74 a 80
Até os 6 anos de idade as lembranças são muitas, sem muita cronologia na minha cabeça: lembro do apartamento no Méier e o alvoroço do primeiro dia de chuva no ano, da vizinhança que era tão presente quanto a familia, de ir a muitos aniversários, de ser a criança com mais parentes, de ter sempre gente em casa, da imagem de São Jorge na porta de casa, apesar de naquela época não entender o que um cara estava fazendo matando um bichinho e iluminado com uma luz vermelha, lembro de ir na padaria com meu pai, de brincar com meus irmãos, de ter pena deles serem castigados porque nao queriam estudar ou porque não queriam comer, lembro de ficar muito quietinha e as pessoas acharem isso ótimo.
Lembro que eu achava meus pais mais velhos do que o dos meus amigos, do meu pai estar sempre viajando, de estudar com a mamãe, de visitar os parentes em São Paulo, de ficar olhando o morro verdinho em frente ao prédio, de passar horas olhando o taco da sala ou o piso do banheiro, de ter medo da cortina de palhaços, de não gostar da Barbie, de brincar com a Glaucinha, da manada de búfulo, da dona gordona, do cosme e damião, de adorar ir para a casa da Tia Dedé, de passar a mão no cabelinho de algodão do Tio Anisio, de Achar a Rosangela a prima mais bonita do mundo e a Valéria a prima mais inteligente do planeta, de achar que pata de galinha era comida de bruxa, de ouvir 100 vezes a história da Rapunzel, de adorar os primos Marcelo e Fernando, que eram da nossa idade, de ser conhecida como india e ter que mostrar a bunda para que todos soubessem que "era tudo da mesma cor", de brincar com a mamãe contando quantas kombias víamos no trânsito..
De entrar no Jardim Escola Tia Néia e achar que lá não tinha nada para aprender, que eu não pudesse aprender sozinha ou com a minha mãe, me lembro da Aline Michele, do anão do Jardim, da Flavinha e sua voz estridente.
Eu lembro que eu sabia que a vida não era boa
sábado, fevereiro 23, 2008
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